Em Fortaleza, apenas 2.600 alunos com necessidades especiais estão matriculados nas 461 escolas públicas
Palestras, seminários, congressos e debates, na teoria, a sociedade é ciente das dificuldades quando o assunto é inclusão de pessoas com deficiência nas escolas. Para se ter uma ideia da realidade, segundo dados do Senso Escolar 2010, dos 707 mil 251 estudantes matriculados na rede estadual e municipal de ensino do Ceará, incluindo Capital e Interior, apenas 24 mil 435 são crianças e jovens com deficiência, o que representa apenas 3,46% do total de alunos.
Na manhã de ontem, o Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com deficiência do Estado do Ceará (Cedef), vinculado a Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado do Ceará (Sejus), promoveu, evento para debater a proposta de educação inclusiva baseando-se na Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência. O objetivo do encontro com mais de 60 entidades, foi realizar um diagnóstico da realidade atual no Ceará para implementar novas práticas na área da educação inclusiva.
Pesquisa
Atualmente, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará está entre os cinco estados do País com maior ocorrência de pessoas com deficiência (17,34% da população) e Fortaleza possui 292 mil pessoas, destes, apenas 2.600 estão matriculados na rede municipal de ensino. Mas, muitas vezes, as dificuldades de inclusão começam dentro de casa.
O estudante Tiago Márcio Sales, 25 anos, aos 17, sofreu um acidente grave de moto e depois de 29 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ficou com o lado esquerdo do corpo paralisado.
Mesmo sofrendo preconceito por parte de sua família, que não acreditava que ele poderia ser incluido novamente na sociedade, Sales voltou a estudar, concluiu o ensino Médio em uma classe regular de uma escola municipal e fez cursos de extensão na área da engenharia elétrica. Hoje, faz parte de movimentos à favor da inclusão de pessoas com deficiência na escola. “Eu nunca desisti de mim mesmo, pois apesar de todas as dificuldades, barreiras físicas e sociais, eu acreditei da minha capacidade. A política de inclusão é essência para o desenvolvimento da aprendizagem da pessoa com deficiência”, ressalta.
Para Antônio Alves Ferreira, presidente do Cedef, a educação inclusiva é fundamental, contudo tão importante quanto, é sair do alvo teórico das discussões e ir para a prática. “Estamos reunidos não somente para debater, mas para procurar soluções e estabelecer metas”, garante.
Da mesma opinião partilha a defensora pública Amália Rocha, assessora do gabinete da secretária da Justiça. Conforme ela, a palavra de ordem da Secretaria é efetividade. “Exercer o direito da pessoa com deficiência não é fácil, nem rápido, mas é uma luta constante e só se conquista no exercício do dia a dia. Momentos como esse são importantes para esclarecer dúvidas e pensar em estratégias”, afirma. Amália Rocha.
DIREITOS
Secretarias se unem a favor da inclusão
Secretarias se unem a favor da inclusão
Salas com recursos multifuncionais, livros em braile, cadeiras especiais, equipamentos auditivos. Sonho? Não, realidade. As secretarias da Educação do Ceará (Seduc), Municipal de Educação (SME) e a Universidade Federal do Ceará (UFC) estão realizando ações efetivas para garantir os direitos educacionais das pessoas com deficiência.
No ano passado, a Seduc criou o Centro de Atendimento Educacional Especializado do Estado do Ceará (Creaece). A unidade educacional, que funciona no prédio do Instituto de Educação do Ceará, reúne todas os serviços de apoio as diversas áreas de educação especial.
Segundo Gewada Weyne Linhares, assessora técnica da Coordenação de Diversidade e Inclusão da Seduc, o objetivo do Centro de Atendimento é gerar, socializar e aplicar o desenvolvimento de suas ações em todo o Estado, através do atendimento educacional especializado, da produção de material didático/pedagógico, apoio pedagógico específico e a formação de professores, pais e alunos.
Ainda de acordo com ela, até o fim de 2011, o Centro de Atendimento pretende capacitar mais de 8 mil pessoas da Capital e do Interior do Estado. “O Creaece foi implantado para constituir numa ação política pública integrada, em todas as esferas administrativas governamental, contando com a parceria das instituições públicas e privadas e a comunidade”.
Uma outra ação realizada, que está sendo realizada pela SME em parceria com a Seduc e a UFC, é o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, apoio à oferta de Atendimento Educacional Especializado (AEE). As salas disponibilizam mobiliários, materiais didático-pedagógicos, equipamentos de informática e outros recursos de acessibilidade.
Na rede estadual de ensino 200 escolas possuem esse recuso e na rede municipal já são 166 instituições. Segundo Rita Vieira, professora da Faculdade de Educação da UFC e coordenadora do curso de Formação de Professores em AEE, somente este ano, cerca de 3.500 professores da rede estadual e municipal de ensino estão sendo capacitados para atuarem nas Salas de Recursos Multifuncionais.
“A ideia é que as crianças e jovens com deficiência possam desenvolver suas capacidades cognitivas e motoras com recursos especiais durante o contra turno da escola. Assim, é possível eliminar várias barreiras de aprendizagens”, ressalta a professora da UFC.
Por Karla Camila
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Fonte: Diário do Nordeste