Lançado no final de agosto, Nunca Deixe de Sonhar já está na segunda edição
Aos 23 anos, Vinícius Ergang Streda não é igual a qualquer jovem de sua idade. É muito mais participativo. O rapaz do interior de Santo Cristo, no noroeste do Estado, já escreveu um livro, faz palestras, é mesário nas eleições, fundador de fã-clube de banda, foi coroinha e domina as redes sociais da internet. Se esse breve currículo não surpreendeu você, prepare-se: Vinícius é um rapaz com síndrome de Down.
Seu livro, elaborado em parceria com a prima, a psicopedagoga Carina Streda, é um sucesso. Lançado no final de agosto, Nunca Deixe de Sonhar já está na segunda edição. Os mil primeiros exemplares se esgotaram em menos de um mês. A obra, em processo de tradução para o espanhol, deverá ser lançada na Argentina em abril.
– Era um sonho meu. Quando eu comecei a escrever fui buscar informações, relatos da família. Hoje sou autor de livro – conta o jovem, que sonha agora em ser autor de novelas.
No livro, Vinícius relata suas vivências na família, na comunidade e nas escolas especial e regular. Suas angústias também aparecem. A percepção que o jovem tem sobre a síndrome e as suas limitações ficam claras na obra. Ele frequentou a escola especial nos primeiros anos de vida. Aos oito anos, passou a estudar junto aos alunos classificados como normais. Foi dos primeiros casos de inclusão na escola regular da região. Vinícius seguiu até o 1º ano do Ensino Médio.
– Meus colegas aprendiam mais que eu, daí eu parei. Quando o professor passava atividades no quadro, os colegas conseguiam copiar, mas eu não. Quando estava copiando uma coisa, ele apagava – conta o rapaz, que não se intimidava em pedir à direção da escola atividades diferenciadas.
Nesta época teve ainda uma paixão não correspondida no colégio, o que o desestimulou. Preferiu ir trabalhar com os pais, no mercado da família. Ali ele era repositor de mercadoria. Com o salário, comprou um notebook e passou a ter Orkut, MSN e Twitter. Aprendeu a manusear o computador em dois ou três dias, auxiliado pela prima. Antes de tornar-se um autor atarefado com sessões de autógrafos e palestras, já era familiarizado com o mundo das letras. Na adolescência, com a ajuda do pai, Ernani, criava histórias infantis e as apresentava para crianças nas creches. Mas foi com o livro que ele conseguiu aperfeiçoar a escrita e organizar as ideias.
Dos bailões aos velórios
Apesar de perceber que não tem a mesma autonomia que o irmão Victor, 19 anos, que mora sozinho, faz faculdade e namora, Vinícius é bastante independente. Viaja sozinho para Santo Ângelo, onde Carina mora, percorre o centro de Santo Cristo sem ajuda e faz as compras para seu quarto no comércio. Vai a bailes e dança até o amanhecer. Ele é participativo até em velórios, inclusive daqueles que ele pouco conhece. O importante para ele nessas ocasiões tristes é confortar a família.
– O principal motivo dele ser assim é que a gente nunca o rejeitou. Onde a gente ia sempre levava ele junto. Sentimos dificuldades, mas nunca deixamos de fazer alguma coisa por causa da síndrome de Down – conta a mãe, Claudia, 46 anos.
Além das experiências escritas por Vinícius, o livro traz relatos dos pais e do irmão e reflexões propostas por Carina.
– Quando ele nasceu, os médicos disseram aos pais que crianças assim não aprendiam. Mas o desenvolvimento intelectual vai se construindo à medida que há estímulo – diz Carina.
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