A incidência das doenças cardíacas congênitas na população geral é menor que 1%. Essa associação chega a 50% nas crianças com Síndorme de Down, representando as principais causas de morbimortalidade nos primeiros anos de vida.
A apresentação clínica dessas cardiopatias, no período neonatal, pode variar desde cianose (arroxeamento de lábios e extremidades), insuficiência cardíaca (cansaço às mamadas, sudorese excessiva e baixo ganho de peso), sopro cardíaco e até casos assintomáticos, o que pode atrasar seu diagnóstico. Nas crianças com Síndome de Down, peculiaridades anatômicas, metabólicas e doenças associadas podem dificultar ainda mais essa tarefa. É necessário que os profissionais de saúde da primeira infância (neonatologistas, pediatras e cardiologistas pediátricos) estejam habituados a estes detalhes.
A importância da avaliação cardiológica precoce nas crianças com Síndrome de Down baseia-se na necessidade de diagnóstico neonatal das doenças cardíacas e do encaminhamento seguro para o Serviço de Estimulação e Habilitação, composto por fisioterapia, fonoterapia e terapia ocupacional. A história familiar e gestacional, os antecedentes da criança e o exame clínico detalhado, realizado por profissional experiente, são as bases da investigação clínica, que deve sempre ser complementada com exames de imagem, como ecocardiograma colorido. A necessidade de outros exames, tais como eletrocardiograma, radiografia de tórax ou outros é avaliada individualmente.
Dentre as cardiopatias, as que cursam com hiperfluxo pulmonar (desvio do sangue da circulação sistêmica para a pulmonar através de um defeito anatômico congênito) merecem atenção especial, pois podem evoluir com Hipertensão Pulmonar, condição clínica que impacta muito negativamente na sobrevida de crianças, principalmente as com Síndrome de Down. A literatura recente preconiza que essas doenças devem ser abordadas cirurgicamente no primeiro ano de vida, preferencialmente ainda no primeiro semestre.
O ideal é que todas as crianças com Síndrome de Down sejam submetidas a uma avaliação com cardiologista pediátrico nas primeiras semanas de vida, e realizem, pelo menos, um exame de ecocardiografia. No período de janeiro a dezembro de 2009, o ambulatório da Apae de São Paulo realizou aproximadamente 1.000 atendimentos a crianças com Síndrome de Down. As portadoras de cardiopatia são acompanhadas clinicamente ou tratadas cirurgicamente, evitando a Hipertensão Pulmonar e outras graves complicações, e as sem comprometimento cardíaco são encaminhadas ao Serviço de Estimulação e Habilitação, essencial ao seu desenvolvimento neuropsicomotor.
ELI SZWARC é médico responsável pelo serviço de cardiologia e cardiologia pediátrica da Apae de São Paulo
Fonte: Jornal O POVO
Nenhum comentário:
Postar um comentário