segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Histórias diferentes- Personagens com deficiência ganham espaço na literatura infantil e ajudam a combater preconceitos

O Livro como instrumento de Inclusão Social
  O primeiro personagem com uma síndrome genética na literatura infantil brasileira surgiu há apenas dez anos. Foi na coleção Meu Amigo Down, com três livros, da jornalista e escritora carioca Claudia Werneck (WVA Editora). Os títulos estão entre os 68 que tratam do tema deficiência, publicados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. As histórias de Cláudia são narradas por um menino que não entende por que é que o seu amigo com Down enfrenta situações tão delicadas na escola, em casa e na rua. "O livro também é um instrumento de inclusão social e favorece a formação de uma geração mais atenta à diferença e mais apta a lidar com ela", afirma Cláudia. Os seus livros infantis foram traduzidos para o inglês e o espanhol, são recomendados pela Unesco e Unicef e adoptados por diversas escolas públicas e particulares brasileiras.


Amigos especiais 
  Personagens que não vêem ou que não andam também estão nos livros infantis, como nas histórias da  colecção Amigos Especiais, da Melhoramentos. A do livro A Felicidade das Borboletas, por exemplo, é a bailarina cega Marcela. Ela fala da sua emoção ao apresentar-se no palco pela primeira vez vestida de borboleta. Em O Grande Dia, o protagonista é Rodrigo, um menino deficiente físico. Ele não pode jogar futebol, mas participa no campeonato da sua turma como técnico. "Os personagens falam das suas dificuldades e de como encontraram o melhor jeito de fazer o que gostam", explica a autora dos dois livros, Patrícia Engel Secco. "A criança com deficiência gosta de se ver nos livros e isso é importante para sua auto-estima", diz a escritora. 
  No livro mais recente da série da Melhoramentos, Um Dia Especial para Laurinha, a personagem tem baixa visão e prepara-se para o seu primeiro dia de aulas. "O foco da história não é a deficiência, o que faz com que qualquer criança se identifique com Laurinha, em vez de pensar ‘ainda bem que não sou assim!’", destaca uma das autoras da obra, a psicóloga Ana Lucia Bastos. Segundo ela, livros como o seu também servem para os pais. "Muitas vezes, eles não sabem explicar ao filho o que é o preconceito. As histórias ajudam a elaborar a questão", diz Ana Lúcia.
  Em A Flauta do Sótão, da Paulus Editora, a criança deficiente que não fala encontra outra forma de expressão. O herói da história é o menino Reinaldo, que aprende a falar por meio da música ao encontrar uma flauta mágica. "Ser chamado de mudinho pelos outros garotos fez Reinaldo ir para a frente. Mostro que na dificuldade é possível criar forças e a flauta coloca em acção as forças que o menino tinha. Ele podia ser quem era com ou sem deficiência, só dependia de ele querer e ter oportunidades", ressalta a autora Lúcia Pimentel Góes, professora de literatura infanto-juvenil da Universidade de São Paulo (USP). 
  Um grito também pode abrir caminho para o deficiente como mostra o livro Patrícia (Editora Brinque-Book), do australiano Stephen Michael King. A personagem tem pensamentos incríveis e quer encontrar alguém para compartilhá-los. "Patrícia não fala até o momento em que está tão cheia de ideias que elas precisam sair. Ela consegue isso com um berro e aí solta os pensamentos", conta King, explicando que parte do enredo veio da própria experiência de ser parcialmente surdo, ter ideias e dificuldade de conversar sobre elas por não ouvir o que as pessoas respondiam. "Dentro de mim havia um rugido de leão. Tudo o que queria era que as pessoas entendessem isso e parassem para me ouvir. O que as crianças têm a dizer é muito valioso e os adultos precisam ouvi-las. Por isso, todas as crianças podem se identificar com a história de Patrícia."
 

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